“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça.” (I Tm 3.16).
Nós, batistas, éramos identificados no Brasil, mais do que qualquer outro grupo, como o povo do livro. Tanto que nos chamavam de “
bíblias” ao nos verem passando para os cultos ou nos dirigindo para visitas ou evangelização. Dávamo-nos por satisfeitos com esta realidade (embora também tenhamos sido perseguidos e discriminados por isso) e afirmávamos às vezes um tanto orgulhosamente que o livro, a Bíblia, era a nossa única regra de fé e prática, diferentemente daqueles que viam na tradição, na autoridade humana ou na ocorrência do sobrenatural a razão de suas crenças e vidas cristãs.
O tempo passou e já não somos mais os “
bíblias”. Talvez num exame mais aproximado, aqueles que assim nos denominavam, nos chamassem hoje de “
povo dos eventos” por causa do valor que temos dado em nossos cultos à realização de atividades tanto da Igreja local quanto da denominação. Há cultos em que o momento destinado aos avisos ou às comunicações é maior que o reservado ao sermão.
Já não somos mais os “
bíblias”. Talvez pudéssemos ser o povo dos cânticos. Deixamo-nos levar pela variedade e pela abundante produção da chamada música gospel que se por um lado, nos fez o bem de tornar-nos cantores mais contextualizados com o nosso cotidiano, por outro, trouxe-nos o louvor baseado na subjetividade das emoções e sem preocupação com a correção teológica, didática e até gramatical. Além disso, muitas vezes a “apresentação” desses cânticos ocupa tempo maior do que o da reflexão bíblica.
Não somos mais os “
bíblias”. Talvez até sejamos o povo dos “
chavões” que bíblicos ou não, invadem nossos púlpitos e o vocabulário dos crentes. Talvez sejamos o que “
tomam posse”, os que “determinam”, os que “
declaram”, os que “
rompem em fé”, os que exigem “
de volta o que é meu”, os que afirmam “
há poder em suas palavras”. Talvez sejamos tudo isso, mas os “
bíblias” não somos mais.
Não será esta uma hora propícia para pensarmos que podemos voltar a ser?
“Outra carga não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha.” (Ap 2.24,25).